quarta-feira, 11 de abril de 2012

"Kind Of Blue"

Na Nova York de fins da década de 50, Miles vivia num apartamento na esquina da Décima Avenida com a Rua 57. Adorava o arranjador Gil Evans, o pianista Bill Evans, o saxofonista John Coltrane e George Russel. Por que George Russel? "Acho que começa um movimento no jazz saindo da convencional seqüência de acordes, um retorno à ênfase na melodia. Estou a fim de escrever música sem acordes, baseada em escalas", declarou Miles ao crítico Nat Hentoff nesse apartamento, em 1958.
Um ano antes, em julho de 1957, assisti na School of Jazz em Lenox à histórica palestra em que o arranjador e compositor George Russel expôs para nós, estudantes, o resultado de seus estudos concentrados numa escala derivada do modo lídio, que originou a inovadora teoria do jazz modal criada entre 1950 e 1953 e descrita em seu livro "Lydian Chromatic Theory of Tonal Organization. Essa concepção teria aberto as portas para que seu fervoroso admirador Miles Davis construísse em 1959 um dos mais belos discos da história do jazz, "Kind Of Blue, cuja inovação era precisamente o emprego do jazz modal. Não custa lembrar que o principal pianista desse disco, Bill Evans, escreveu o texto da contracapa. O mesmo Bill Evans que já fora pianista em discos de George Russel. Esse episódio mostra a argúcia de Miles Davis tanto na escolha de seus músicos como na percepção antecipada do que viria a acontecer, o dom de um visionário.

Zuza Homem de Melo -  Revista "The President" (dez/2011)

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