quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

AS ÂNCORAS

                        Pablo Neruda


Desde a eternidade navegantes invisíveis me vêm levando através de atmosferas estranhas, sulcando mares desconhecidos. O espaço profundo tem cobiçado minhas viagens que nunca terminam. Minha quilha quebrou a massa móvel de icebergs luminosos que intentavam cobrir as estradas com seus corpos poeirentos. Depois naveguei por mares de bruma que estendiam suas névoas entre outros astros mais claros do que a terra. Depois por mares brancos, por mares rubros que tingiram o meu casco com suas cores e suas brumas. Cruzamos às vezes a atmosfera pura, uma atmosfera densa e luminosa que empapou meu velame e o fez fulgente como o sol. Por longo tempo nos detínhamos em países tiranizados pela água e pelo vento. E um dia - sempre inesperado - meus navegantes invisíveis levantavam minhas âncoras e o vento enfunava minhas velas fulgurantes. E era outra vez o infinito sem caminhos, as atmosferas astrais abertas sobre planícies imensamente solitárias.
Cheguei à terra, ancoraram-me num mar, o mais verde, sob um céu azul que eu não conhecia. Acostumadas ao beijo verde das ondas, minhas âncoras descansam sobre a areia de ouro do fundo do mar, brincando com a flora torcida de sua profundida, apoiando as brancas sereias que nos longos dias vêm nelas cavalgar. 
Meus altos e retos mastros são amigos do sol e da lua e do ar perfumado que os penetra. Pássaros que nunca viram detêm-se neles e depois num vôo de flechas riscam o céu afastando-se para sempre. Eu comecei a amar este céu, este mar. Comecei a amar estes homens ... Mas um dia, o mais inesperado, chegarão meus navegantes invisíveis. Levantarão minhas âncoras arborizadas nas algas da água profunda, enfunarão minhas velas fulgurantes ...
E será outra vez o infinito sem caminhos, os mares rubros e brancos que se estendem entre outros astros eternamente solitários ...


sábado, 21 de julho de 2012

"Rebeldia nostálgica não ... "



Titãs
Data - 21 de julho
Horário - 21:30 (abertura da casa)
Local - Curitiba Master Hall

Guia Curitiba Apresenta
Fundação Cultural de Curitiba
Texto - Karen Monteiro
Colaboração - Edson Liberato

"Rebeldia nostálgica não ..."

Resposta bem-humorada do guitarrista dos Titãs, Tony Belotto, ao Guia Curitiba Apresenta, sobre o perfil do público no show comemorativo do disco "Cabeça Dinossauro", que a banda tem feito pelo Brasil e que acontece em Curitiba no dia 21 de julho, às 21:30, no Curitiba Master Hall. "Temos feito o show 'Cabeça Dinossauro' e tem sido glorioso. Nosso público sempre foi muito crítico e questionador. Os públicos daquela época e o atual são muito parecidos. Talvez o atual esteja um pouco mais grisalho, mas como já não enxergo muito bem, pode ser só uma impressão".

Um pouco antes do estrondoso sucesso da banda, que este ano completa 30 anos e que explodiu justamente com "Cabeça Dinossauro", em 1986, as preocupações dos integrantes eram as mesmas dos músicos das bandas que ainda não tinham decolado. Nando Reis já com dois filhos, no inicio da formação, ainda durante a ditadura, se perguntava se não seria melhor tocar numa banda de baile, sem imaginar que o disco, até hoje apontado como um dos mais importantes da história do rock brasileiro, alçaria os Titãs aos palcos mais importantes do país.

"Na época em que foi lançado, havia a cena de uma juventude buscando liberdade, buscando se expressar, o que ficava difícil até 1984. É bom lembrar que até 1988 ainda existia censura. A música 'Bichos Escrotos' tinha palavrão no meio, tinha o piii para esconder a palavra ...", lembra Edson Liberato Dias, professor universitário, comentarista de rádio e historiador apaixonado por música. Edson é da geração que saiu da infância e entrou na adolescência vendo o rock nacional tomar conta dos espaços musicais do país. "Vi surgirem alguns dos discos mais importantes da história nacional do rock. Foi um boom. Naquela época da euforia de consumo do Plano Cruzado vendia-se muito disco. Faltava vinil no mercado para a produção", lembra Edson.

"Cabeça Dinossauro" foi um disco gravado depois de um período nebuloso da carreira, quando Arnaldo Antunes e Tony Belotto tinham sido presos por porte de drogas, o que ocasionou, além de shows cancelados, "desilusão generalizada e um tremendo baixo-astral", segundo Tony Belotto. Num texto escrito para blog, o compositor que se tornaria escritor, continua: "o disco nasceu dessa raiva, mas também de um aprimoramento estético, em que já estávamos trabalhando havia algum tempo, produzindo canções com letras diretas e objetivas ...".

Com o disco, a postura da banda acabou sendo mais fácil de identificar. O lado agressivo, o rok pesado, continuaria a ser explorado com "Jesus não tem Dentes no País dos Banguelas" (1987). No lançamento do disco para a imprensa, o texto que circulou levava uma assinatura especial: a do poeta Paulo Lemniski, na época grande admirador da banda. A poesia concreta aproximaria o paranaense do sempre Titã (apesar da consolidada carreira solo) Arnaldo Antunes. O poeta deixou sua marca em canções como "Família", "Polícia", "Homem Primata", "Igreja" e outras do "Cabeça Dinossauro", influenciadas principalmente pelo punk rock, mas com pitadas de reggae e funk, que se tornaram hinos da rebeldia e da indignação de toda uma geração e que agora voltam à cena. E isso não é nostalgia, garantem os Titãs nas entrevistas pelo Brasil afora. Tudo, afirmam, continua muito atual e ainda diz respeito a todos nós.

domingo, 15 de julho de 2012

"Todo Repúdio"

O texto de abertura do livro "PunK: anarquia planetária e a cena brasileira" de Silvio Essinger, é o colocado abaixo:

Todo Repúdio


Ao Sistema injusto, à fome, à miséria, à falsidade, à mediocridade, à falta de humor, à exploração do homem pelo homem, aos que matam crianças, aos neonazistas e fascistas em geral, à hipocrisia, aos burocratas, à dança da bundinha, aos que exploram as desgraças do povo na TV, à Lei de Gerson, aos que vendem o Brasil, aos cheios de si, aos que batem em mulheres, aos que escravizam pela droga, aos maus patrões, aos monopólios, aos que deixam perpetuar a ignorância, aos fomentadores de intriga, à programação dominical de TV, aos que furam fila, à ganância, ao Star System, aos que vivem reclamando da vida e não fazem nada para mudá-la.

sábado, 14 de julho de 2012

Punks

Programa sobre os Punks na Transamérica Light (95,1), no programa Light News.
Eu, Maria Rafart, Deborah Fertonani e Clóvis Gruner.

Parte I - dia 25/06/2012
http://twitcam.livestream.com/anezc 

Parte II - dia  09/07/2012
http://twitcam.livestream.com/aw35j 




Manifesto Punk
Escrito por Clemente, vocalista e guitarrista do Inocentes.
Publicado em agosto de 1982, na revista "Gallery Around".

Nós, os punks, estamos movimentando a periferia - que foi traída e esquecida pelo estrelismo dos astros da MPB. Movimentando a periferia, mas não como Sandra Sá, que agora faz sucesso com uma canção racista e com uma outra que apenas convida o pessoal para dançar: ou, na verdade, o convida para a alienação. Nos nossos shows de punk rock, todos dançam; dançam a dança da guerra, um hino de ódio e revolta da classe menos privilegiada. Já Guilherme Arantes diz que é feliz, mesmo havendo uma crise lá fora, porque não foi ele quem a fez;nós também não fizemos esta crise, mas somos suas principais vitimas, suas vitimas constantes - e ele não. Nossos astros da MPB estão cada vez mais velhos e cansados, e os novos astros que surgem apenas repetem tudo o que já foi feito, tornando a música popular uma música massificante e chata. Mesmo assim, eles ainda consegue fazer o povo chorar. Não sei como, cantando a miséria do jeito que eles a vêem, do alto, mas que não sentem na carne, como nós. E também choram de alegria, quando cantam o dinheiro que ganham. Nós, os punks, somos uma nova face da música popular brasileira, com nossa música não damos a ninguém uma ideia de falsa liberdade. Relatamos a verdade sem disfarces, não queremos enganar ninguém. Procuramos algo que a MPB já não tem mais e que ficou perdido nos antigos festivais da Record e que nunca mais poderá ser revivido por nenhuma produção da Rede Globo de Televisão. Nós estamos aqui para revolucionar a música popular brasileira, para dizer a verdade sem disfarces ( e não tomar bela a imunda realidade): para pintar de negro a asa branca, atrasar o trem das onze, pisar sobre as flores de Geraldo Vandré e fazer da Amélia uma mulher qualquer.

Essa é a primeira música do Inocentes que se torna mais conhecida.



quarta-feira, 11 de julho de 2012

A Casa de Astérion

Texto: Jorge Luis Borges

E a rainha deu à luz um filho que se chamou Astérion.
Apolodoro, Biblioteca, III, I.

Sei que me acusam de soberba, talvez de misantropia e talvez de loucura. Tais acusações (que eu castigarei no devido tempo) são irrisórias. É verdade que não saio de minha casa, mas também é verdade que suas portas (cujo número é infinito *o original diz catorze, mas sobram motivos para inferir que, na boca de Astérion, esse numeral equivale a infinitos) estão abertas dia e noite para os homens e também para os animais. Que entre quem quiser. Não encontrará aqui pompas de mulher nem o bizarro aparato dos palácios, mas sim a quietude e a solidão. Encontrará igualmente uma casa como não há outra na face da Terra. (Mentem os que afirmam que no Egito há uma parecida.) Até meus detratores admitem que não há um único móvel na casa. Outro caso ridículo é que eu, Astérion, sou um prisioneiro. Devo repetir que não ha nenhuma porta fechada, devo acrescentar que não há fechadura? Além do mais, certo entardecer fui para a rua; se voltei antes de escurecer, foi pelo medo que me infundiram os rostos da plebe, rostos desbotados e achatados, semelhantes à mão aberta. O sol já tinha se posto, mas o choro desvalido de um menino e as toscas lamúrias da multidão disseram que haviam me reconhecido. O povo rezava, fugia, prosternava-se; alguns se encarapitavam no estilóbato do templo dos Machados, outros juntavam pedras. Um deles, creio, escondeu-se no mar. Não em vão foi minha mãe rainha; não posso me confundir com o vulgo, embora minha modéstia deseje.
O fato é que sou único. Não me interessa o que um homem possa transmitir aos demais; como o filósofo, penso que nada é comunicável pela arte da escrita. As minúcias desagradáveis e banais não têm cabida em meu espírito, que está preparado para o grande; jamais retive a diferença entre uma letra e outra. Certa impaciência generosa não permitiu que eu aprendesse a ler. Às vezes lamento, porque as noites e os dias são compridos.
Claro que não faltam distrações. Feito o carneiro que vai investir, corro pelas galerias de pedra até rolar pelo chão, zonzo. Eu me agacho à sombra de uma cisterna ou na curva de um corredor e brinco de esconder. Há terraços de que me deixo cair, até me ensanguentar. A toda hora posso brincar de fingir que durmo, com os olhos fechados e a respiração forte. (Às vezes adormeço realmente, às vezes já mudou a cor do dia quando abro os olhos.) Mas de tantas brincadeiras a que prefiro é a do outro Astérion. Finjo que ele vem me visitar e que lhe mostro a casa. Com grande reverência digo-lhe: "Agora voltamos à encruzilhada anterior" ou "Agora desembocamos noutro pátio" ou "Bem dizia eu que você gostaria da canaleta" ou "Agora você vai ver uma cisterna que se encheu de areia" ou "Já vai ver como o porão se bifurca". Às vezes me engano e ficamos rindo com muito gosto.
Não imaginei apenas essas brincadeiras; também meditei sobre a casa. Todas as partes da casa se repetem muitas vezes; todo lugar é outro lugar. Não há uma cisterna, um pátio, um bebedouro, uma manjedoura; são catorze [são infinitos] as manjedouras, bebedouros, pátios, cisternas. A casa é do tamanho do mundo; ou melhor, é o mundo. Contudo, de tanto exaurir pátios com uma cisterna e poeirentas galerias de pedra cinza, cheguei à rua e vi o templo dos Machados e o mar. Isso não entendi, até que uma visão da noite me revelou que também são catorze [são infinitos] os mares e os templos. Tudo se repete muitas vezes, catorze vezes, mas há duas coisas no mundo que parecem existir uma única vez: em cima, o intrincado sol; embaixo, Astérion. Talvez eu tenha criado as estrelas e o sol e a casa enorme, mas já não me lembro.
A cada nove anos entram na casa nove homens para que eu os livre de todo mal. Ouço seus passos ou sua voz no fundo das galerias de pedra e corro alegremente a seu encontro. A cerimônia dura poucos minutos. Cai um depois do outro sem que eu ensanguente as mãos. Onde caem, ficam, e os cadáveres ajudam a diferenciar uma galeria das outras. Ignoro quem sejam, mas eu sei que um deles profetizou, na hora da morte, que um dia chegaria meu redentor. Desde aquele momento não sofro com a solidão, porque sei que meu redentor existe e no fim se levantará do pó. Se meu ouvido alcançasse todos os ruídos do mundo, eu perceberia seus passos. Oxalá me leve para um lugar com menos galerias e menos portas. Como será meu redentor?, pergunto-me. Será  um touro ou um homem? Será talvez um touro com rosto de homem? Ou será como eu? 
O sol da manhã reverberou na espada de bronze. Já não restava um só vestígio de sangue.
- Será que acreditarás, Ariadne? - disse Teseu. - O minotauro mal chegou a se defender.

sábado, 23 de junho de 2012

Maybe I'm Amazed



Após a separação dos Beatles, Paul McCartney lançou, em 1970, o álbum "McCartney" que tinha a penúltima faixa do lado B a música "Maybe I'm Amazed". Essa música foi o primeiro sucesso de Paul, após os Beatles.

Maybe I'm Amazed - http://www.youtube.com/watch?v=cm2YyVZBL8U

sexta-feira, 22 de junho de 2012

Helter Skelter

 

Paul McCartney é bastante lembrado por suas baladas românticas. Na época dos Beatles, ele era visto como o bom moço, enquanto John Lennon era o roqueiro rebelde, George era um cara na dele e Ringo o mais bem humorado. O curioso é pensar que a música mais pesada da banda foi composta por Paul, Helter Skelter, considerada por muitos o primeiro hard rock da história. A inspiração foi uma crítica do jornalista Chris Welch, no Melody Maker, sobre a música "I Can See For Miles" do The Who, que destacava o quanto a música era pesada. Paul escutou a música e não concordou com Welch, resolveu mostrar a sua versão para o que ele considerava uma música pesada. 

A música compõem uma das faixas do Álbum Branco dos Beatles, de 1968. Helter Skelter é sobre um brinquedo de um parque de diversões, denominação bastante conhecida na Inglaterra.


Charles Manson foi um criminoso que justificou assassinatos hediondos graças as interpretações absurdas que fez de músicas dos Beatles, principalmente Helter Skelter. Manson saiu da cadeia, em 1967, e formou uma comunidade Hippie com jovens que tentavam se aventurar longe de suas famílias, mas não conseguiam se sustentar. Manson acolheu esses jovens e passou a explicar para eles, que o mundo estava prestes a enfrentar uma "guerra racial" entre os brancos e os negros e que ele tinha a missão de tentar salvar  a raça branca da extinção, criando um poço gigantesco no deserto da Califórnia, onde essa comunidade, conhecida como "família Manson", ficaria abrigada até terminar o conflito. Charles Manson tirou essas idéias das letras das músicas dos Beatles

Dois episódios de assassinatos que aconteceram em Los Angeles, em 1969, chocou os Estados Unidos. A "família Manson" passou a cometer roubos e assaltos, influenciada pelo seu líder, Charles Manson, sem que ele estivesse presente nos crimes. Os jovens seguidores de Manson estiveram no período da tarde de 9 de agosto na casa de Sharon Tate, modelo e esposa, grávida de 8 meses, do diretor de cinema Roman Polanski, que estava na Europa participando de um festival de cinema. Eles pediram alguma coisa para comer e beber, e foram bem atendidos. A noite Sharon recebia dois casais de amigos para um jantar quando teve novamente a visita da "família Manson" que os espancou, esfaqueou e baleou, e escreveram com o sangue das vítimas nas paredes da casa nome das músicas dos Beatles. Na noite seguinte a "família Manson" invadiu a residência do casal Rosemary e Leno LaBianca, cometendo a mesma atrocidade.

Charles Mansons e vários dos integrantes do seu grupo responderam a processo e foram presos. O julgamento foi o mais longo da História dos tribunais norte-americanos até aquela data. As interpretações e a eloquência de Manson deixou todos boquiabertos. 

A música Helter Skelter também foi gravada pelo U2, Ian Gillan, Möttley Crüe, Aerosmith, Siouxsei & The Banshees e Stereophonics. Abaixo a versão original dos Beatles, composta por Paul McCartney:






quinta-feira, 21 de junho de 2012

A morte de Paul McCartney



Texto: Bob Spitz

Na  sexta-feira, 10 de outubro de 1969, Russ Gibb, locutor de uma rádio de Detroit, a WKNR FM, deixou os ouvintes atônitos ao dar a notícia de que Paul estava morto. Na verdade, ele estava morto havia alguns anos, insistiu Gibb, desde novembro de 1966, quando, "às 5 horas de uma manhã chuvosa [ ... Paul ] estava passeando em seu Aston-Martin; o carro bateu e o beatle morreu". Como ele sabia disso? Gibb havia chegado a essa incrível conclusão depois de ler a crítica de "Abbey Road" feita por um aluno da Universidade de Michigan, chamado Fred LaBour, que apresentava indícios bastante complexos, os quais seriam a prova de que Paul havia morrido e fora substituído por um dublê. A capa de "Abbey Road", por si só, já era fonte de numerosas evidências: Ringo está vestido com roupa de agente funerário, enquanto Paul caminha atrás dele - descalço, como o corpo é preparado para o enterro na Itália. É verdade, a foto propriamente dita lembra uma procissão funerária. A placa do Volkswagen era outro sinal: 28 IF, sugerindo que Paul teria 28 anos se estivesse vivo. (O fato de a placa ser, na verdade 281 F não foi o bastante para contrariar a teoria conspiratória.) Havia mais. Na foto da contracapa de "Magical Mystery Tour", Paul está de cravo preto na lapela, enquanto John, George e Ringo usam cravos vermelhos; na capa, Paul está vestido com fantasia preta, ao passo que os outros estão de branco; dentro do álbum, uma foto mostra Paul, vestido de soldado, atrás de uma placa que diz "I Was You". Esse fato em especial convenceu Gibb, que se lembrou de um concurso de sósias de Paul McCartney realizado dois anos antes, no qual um concorrente chamado William Campbell foi escolhido vencedor. Sem dúvida, com uma pequena cirurgia plástica e um pouco de maquiagem, estava montada a fraude.

O anúncio de Gibb deu início a uma série de boatos que varreram o país. Todas as estações de rádio comerciais, complementadas por um exército de locutores de rádios universitárias audaciosos, acreditaram na história, colocando centenas de milhares de fãs confusos na busca de pistas nos discos dos Beatles. Como se fossem necessárias mais evidências, havia muitas a serem encontradas nos sulcos das faixas. Por exemplo, se "Strawberry Fields Forever" fosse tocada em 45 RPM em vez de 33 1/3, algumas pessoas juravam que John cantava "I burried Paul" (Eu enterrei Paul). No "Álbum Branco", se o repetitivo "number nine, number nine" fosse tocado de trás para a frente, elas ouviam uma voz que dizia "Turn me on, dead man, turn me on" (me ligue, homem morto, me ligue).Outras pessoas, ao ouvir "Revolution Nº 9" ao contrário, identificaram o som de um horrível acidente de trânsito (embora o mesmo pudesse ser dito dessa faixa quando ouvida normalmente), com uma voz que gritava "Get me out, get me out!" (Tire-me daqui, tire-me daqui!). E havia outras coisas mais, baseadas na audição ao contrário das gravações em estéreo: "He hit a pole! We better get him to see a surgeon. (Um grito.) So anyhow, be went to see a dentist instead. They gave him a pair of teeth that weren't any good at all so. (Som de buzina de carro) (Ele bateu em um poste! É melhor levá-lo a um cirurgião [...] No final, em vez disso, ele acabou indo ao dentista. Eles deram a ele uns dentes que não ficaram nada bons). Um locutor da WNEW FM de Nova York descobriu uma coisa no sulco do disco, entre "I'm So Tired" e "Blackbird"; quando a gravação era tocada ao contrário, ouvia-se John dizer : Paul is dead. Miss him. Miss him. Miss him ( Paul está morto. Sinto falta dele).

Paul está morto. A frase se tornou um refrão tão familiar quanto qualquer música de "Abbey Road". Os apresentadores da tevê martelaram o assunto, da mesma forma que os principais jornais. Paul está morto. E vendeu muitos discos, apesar das negativas veementes do próprio falecido. "Estou vivo e estou bem, e preocupado com os boatos sobre minha morte", ele disse à Associated Press, em pé, cheio de vida, na porta de sua casa, dez dias após a divulgação da notícia. "Mas, se eu estivesse morto, seria o último a saber." As vendas dos discos dos Beatles também dispararam, com "milhões de jovens fãs de olhos e ouvidos atentos aos sinais do suposto falecimento de Paul [...] nas capas e nos sulcos dos discos." Sgt. Pepper's ressurgiu no 124º lugar nas paradas americanas, com Magical Mystery Tour logo atrás, em 146º. E Abbey Road continuava a superar todos os concorrentes do momento em um milhão de unidades vendidas.

Embora "Paul está morto" estivesse dando aos Beatles todos os tipos de compensações financeiras, o tema em questão logo se transformou numa "grande chateação". Ele não podia ir a lugar nenhum ou fazer coisa alguma sem que um bisbilhoteiro criasse alguma confusão. "Será que você pode difundir a notícia de que sou apenas uma pessoa normal e quero viver em paz?", ele pediu ao correspondente da LIFE, que o localizou em carne e osso na sua fazenda na Escócia. "Que fique registrado: Paul não está morto."

quarta-feira, 20 de junho de 2012

Os pais de Paul McCartney

Música de Paul McCartney que fala sobre família.
Let' em in - Ao Vivo no Rio de Janeiro, em 2011.
http://www.youtube.com/watch?v=75oycvjFIDM

A mãe de Paul McCartney, Mary Patricia.

Texto: Luiz Antonio da Silva


Paul nasceu James Paul McCartney, no dia 18 de junho de 1942, numa enfermaria particular do Walton Hospital em Liverpool, o único Beatle a nascer em tal ambiente luxuoso. Sua família era uma família comum da classe média. Isso foi no ponto culminante da guerra. Paul chegou em grande gala, porque sua mãe, durante uma certa época, havia sido irmã encarregada da enfermaria da maternidade. Deram-lhe um tratamento de estrela quando ela voltou para ter Paul, seu primeiro filho.

Sua mãe, Mary Patricia, abandonara o trabalho no hospital fazia apenas um ano, quando casou com seu pai, tornando-se health visitor (misto de enfermeira e assistente social). Seu nome de solteira era Mohin e, como o marido, era de descendência irlandesa.

Jim McCartney, o pai de Paul, começou a trabalhar aos quatorze anos como garoto de amostras em A. Hannay and Co., corretores e comerciantes de algodão em Chapel Street, Liverpool. Ao contrário da esposa, ele não era católico. Sempre se classificou como agnóstico. Jim nasceu em 1902, numa família de três irmãos e quatro irmãs.

Foi considerado de muita sorte, quando deixou a escola e conseguiu um emprego na indústria de algodão. Essa indústria estava em franco progresso e Liverpool era o centro de importação para os teares de Lancashire. Conseguir um emprego nesta indústria significava estar estabelecido para toda a vida.

Como menino de amostras, Jim recebia seis shillings por semana. Tinha de descobrir prováveis compradores de algodão e apresentar-lhes as amostras do artigo que lhes podeira interessar. A firma Hannay importava o algodão, separava-o, classificava-o e então vendia para as fábricas de tecidos.

Jim se desincumbiu muito bem no cargo e, aos vinte e oito anos, foi promovido a vendedor de algodão. Isso foi considerado um grande sucesso para um rapaz comum. Geralmente, os vendedores de algodão pertenciam à classe média. Jim foi sempre um rapaz simples e ativo, com um sorriso aberto e simpático.

Quando conseguiu essa grande promoção, deram-lhe um salário de 250 libras por ano. Salário não muito grande, mas bastante razoável. Jim era muito moço para a Primeira Guerra Mundial e muito velho para a Segunda, e com audição num só ouvido - ele teve um tímpano perfurado quando, aos dez anos de idade, caiu de um muro - por isso, não foi convocado. Contudo, era capaz de realizar algum tipo de trabalho durante a guerra. Quando o Mercado do algodão fechou, foi mandado, por esse motivo, para as fábricas de Napiers.

Em 1941, aos trinta e nove anos, Jim se casou. O casal mudou-se para quartos mobiliados, em Anfield. Quando Paul nasceu, ele trabalhava, durante o dia, em Napiers, e de noite, como bombeiro. Como sua esposa havia trabalhado no hospital, ele podia visitá-la quando bem entendia, não estando sujeito às horas de visita.

"Ele tinha uma aparência horrível, eu não podia suportar isso. Tinha só um dos olhos abertos e chorava o tempo todo. Eles o levantaram e ele parecia m pedaço horroroso de carne vermelha. Quando cheguei  em casa chorei, pela primeira vez, em muitos anos."

Apesar do trabalho médico de sua esposa, ele nunca teve doença de qualquer espécie. O cheiro de hospitais o fazia ficar nervoso, medo que Paul herdou dele. 

"Contudo, no dia seguinte, ele parecia mais humano. E, cada dia que passava, suas feições melhoravam. Afinal, ele se formou um lindo bebê."


Paul McCartney com o seu pai, Jim McCartney.

terça-feira, 19 de junho de 2012

Eleanor Rigby


Eleanor Rigby é a 2ª faixa do álbum "Revolver" dos Beatles, lançado em 1966.

Texto: Steve Turner

Assim como aconteceu com muitas canções de Paul, a melodia e as primeiras palavras de "Eleanor Rigby" surgiram enquanto ele tocava piano. Ao se perguntar que tipo de pessoa ficaria recolhendo arroz em uma igreja depois de um casamento, ele acabou sendo levado à sua protagonista. Ela originalmente se chamaria Miss Daisy Hawkins, porque o nome encaixava no ritmo da música.

Paul começou imaginando Daisy como uma jovem, mas logo percebeu que qualquer uma que limpasse igrejas depois dos casamentos provavelmente seria mais velha. Se ela era mais velha, talvez fosse uma solteirona, e a limpeza da igreja se tornou uma metáfora para suas oportunidades de casamento perdidas. Então ele a baseou em suas lembranças das pessoas mais velhas que conheceu quando era escoteiro em Liverpool.

Paul continuou a pensar sobre a música, mas não estava confortável com o nome Miss Daisy Hawkins. Não seria suficientemente "real". O cantor de folk dos anos 1960 Donovan lembra que Paul tocou para ele uma versão da música em que a protagonista se chamava Ola Na Tungee. "A letra ainda não estava terminada para ele", conta Donovan.

Ele sempre dizia que optou pelo nome Eleanor por causa de Eleanor Bron, atriz principal de Help!. O compositor Lionel Bart, porém, estava convencido de que a escolha tinha sido inspirada por uma lápide que Paul viu no Putney Vale Cemetery em Londres. "O nome na lápide era Eleanor Bygraves", conta Bart, "e Paul achou que se encaixaria na música. Ele voltou para o meu escritório e começou a tocá-la no clavicórdio.

O sobrenome surgiu quando Paul deparou com o nome Rigby em Bristol em janeiro de 1966, durante uma visita a Jane Asher, que estava fazendo o papel de Barbara Cahoun em "The Happiest Days Of Your Life", de John Dighton. O Theatre Royal, casa do Bristol Old Vic, fica no número 35 da King Street e, enquanto Paul esperava Jane terminar o trabalho, passou por Rigby & Evens Ltd., Wine & Spirit Shippers, que ficava do outro lado da rua, no número 22. Era o sobrenome de duas sílabas que ele estava procurando para combinar com Eleanor.

A música foi concluída em Kenwood quando John, George, Ringo e o amigo de infância de John, Pete Shotton, se reuniram em uma sala cheia de instrumentos. Cada um contribuiu com ideias para dar substância à história. Um sugeriu um velho revirando latas de lixo com quem Eleanor Rigby pudesse ter um romance, mas ficou decidido que complicaria a história. Um padre chamado "Father McCartney" foi criado. Ringo sugeriu que ele poderia estar cerzindo as próprias meias, e Paul gostou da ideia. George trouxe a parte sobre "as pessoas solitárias". Paul achou que deveria mudar o nome do padre porque as pessoas pensariam se tratar de uma referência ao seu pai. Uma olhada na lista telefônica trouxe "Father Mckenzie" como alternativa.

Depois, Paul ficou tentando pensar em um final para a história, e Shotton sugeriu que ele unisse duas pessoas solitárias no verso final, quando "Father Mckenzie" conduz o funeral de Eleanor Rigby e fica ao lado de seu túmulo. A ideia foi desconsiderada por John, que achava que Shotton não tinha entendido a questão, mas Paul, sem dizer nada na época usou a cena para terminar a música e reconheceu mais tarde a ajuda recebida.

Espantosamente, em algum momento da década de 1980 a lápide de uma Eleanor Rigby foi encontrada no cemitério de St. Peter's, Woolton, a menos de um metro de onde John e Paul tinham se conhecido no festival anual de verão, em 1957. Está claro que Paul não tirou sua ideia diretamente dessa lápide, mas é possível que ele a tenha visto na adolescência, e o som agradável do nome tenha ficado em seu inconsciente até vir À tona pelas necessidades da canção. Na época ele afirmou: "Eu estava procurando um nome que parecesse natural. Eleanor Rigby soava natural".

Em mais uma coincidência, a empresa Rigby & Evens Ltd, cuja placa havia inspirado Paul em Bristol, em 1966, pertencia a um conterrâneo de Liverpool. Frank Rigby, que estabeleceu sua companhia na Dale Street, Liverpool, no século XIX.

Como single, "Eleanor Rigby" chegou ao topo da parada de sucessos britânica, mas seu auge nos EUA foi o 11º lugar.

Escute a música - Eleanor Rigby: http://www.youtube.com/watch?v=-LOgMWbDGPA

domingo, 17 de junho de 2012

O Olhar de Antanas Sutkus



"Maratona na rua da Universidade". Vilnius, 1959

Fonte: "Um Olhar Livre"
Catálogo do Museu Oscar Niemeyer.
Antanas Sutkus

Nesse Blog há mais informações 
Sobre o Fotógrafo Antanas Sutkus
Data de 10 de fevereiro de 2012

...

Quais são os seus fotógrafos favoritos? Quais são as suas influências?

Eu tenho uma grande biblioteca de fotógrafos mundialmente famosos. Eu me interesso pelas suas ideias, pelas suas formas de expressão. Eu aprecio os trabalhos de Henri Cartier-Bresson, Andre Kertesz, Robert Doisneau, Robert Frank, Garry Winogrand, Lee Friedlander, Arnold Newman, Annie Leibowitz, Diane Arbus, Mary Ellen Mark. Livros que eu recebo da Alemanha, Polônia e comprados em sebos em Moscou e São Petersburgo. Comprei o livro "Family of Man" de Edward Steinchen muito cedo. Era muito importante para mim que a fotografia pudesse influenciar da mesma forma que a literatura. A exposição de Paul Strand, que eu vi durante um das minhas primeiras viagens ao exterior me deixaram uma grande impressão.
Entretanto, a fotografia não teve nenhuma grande influência no meu próprio estilo fotográfico. Na época em que eu comecei a seguir os eventos de fotografia no munto, eu já havia descoberto a minha personalidade.

A literatura e as outras artes exercem também grande influência no seu trabalho? A sua fotografia "Melodia da Solidão" transpõem a esfera fotográfica, soando através do papel uma triste melodia ... Qual a importância das outras artes no seu trabalho e de que forma esta importância se manifesta?

Os meus primeiros professores foram escritores como Camus, Kafka, Kerouac, Faulkner, Sallinger, Marquez, Kobo Abe, Dostoievski, Bulgakov. A tuberculose contribuiu muito para a minha educação, pois eu podia ler livros durante dezesseis horas por dia no hospital. O cinema também me influenciou: Bergman, Antonioni, Buñuel ... Os diversos impulsos artísticos são essenciais para o trabalho com arte. A arte me ajuda a compreender os problemas do homem. A música com certeza é a arte que mais profundamente penetra na alma, e eu a chamo de conversa divina.

(...)

Qual a relação que você cultiva com os personagens das suas fotografias? Quando você olha para as suas próprias fotografias, você os sente próximos, ou como Federico Fellini, você guarda uma distância em relação às suas fotos?

Eu não sinto nenhuma distância, ao contrário, os meus "heróis" me são, às vezes, até mesmo mais próximos do que os meus familiares. Eles me fazem lembrar e eu os amo. Há muito tempo eu aprendi que para fotografar é necessário amar as pessoas e a vida. Sem amor, a fotografia é impossível.

...

quinta-feira, 7 de junho de 2012



WOODY GUTHRIE

"Odeio canções que fazem com que você pense que não tem nada de bom. Odeio canções que fazem pensar que nascemos para perder. Que somos fadados a perder. Bons para ninguém. Bons para nada. Porque você é muito velho ou muito jovem ou muito gordo ou muito magro ou muito feio para fazer isso ou aquilo. Canções que nos botam para baixo ou canções que desdenham da nossa falta de sorte ou de nossos caminhos difíceis. Levanto-me para combater esse tipo de canção até meu último suspiro ou a última gota de sangue. Levanto-me para cantar músicas que provem que esse é seu mundo e que se ele o atingiu com força e o jogou no chão uma dúzia de vezes, não importa a força com que ele o jogue no chão ou passe por cima de você, não importa sua cor, sua altura ou sua constituição física, levanto-me para cantar músicas que o façam sentir orgulho de si mesmo e de seu trabalho. E as músicas que eu canto são feitas, na maior parte, por gente de todo tipo, assim como você."

GUTHRIE, Woody. Born to Win (Nova York: Macmillan, 1965), pág. 223 (c) 1965 The Guthrie Children's Trust Fund. Escrito em 3 de dezembro de 1944.

terça-feira, 15 de maio de 2012

VAZIO


Foto - Danilo Dal Molin Lopes

Texto - Edson Liberato

Não há menor possibilidade de transmitirmos tudo o que pensamos, sentimos e vivemos em palavras.
Não há nada que seja certo ou errado, o que existe é a vida e os nossos julgamentos que a limitam.
O homem que não podia voar já chegou a lua.
Limite?
A lua que era dos românticos foi conquistada por astronautas militares.
Sentido?
Sabemos que a lua nunca pertenceu a ninguém.
Quem a conquistou não fomos eu e você.
Ela não existe por nossa causa.
E quando não estivermos mais aqui.
Ela vai continuar inspirando tolos poetas românticos.

Pessoas vivem o seu cotidiano como fosse algo enfadonho e esquecem de ver a beleza nos detalhes.
Pessoas vivem o seu cotidiano como se a resposta fosse encontrada no futuro.
Pessoas vivem o seu cotidiano pensando naquilo que se perdeu no passado.
Pessoas só pensam no presente, e esquecem o passado, e não pensam no futuro.
Esses dias atrás eu li de algum pensador que a maior invenção do homem é o tempo.
Alguns se sentem velhos demais na sua juventude,
Outros se sentem jovens demais na sua velhice.
E quem sou eu para julgar o que as pessoas sentem, falam, pensam, ou fazem.

Simples divagações que não nos levam a nenhum lugar.
Será que existe, ou será que um dia já existiu um lugar para ir?
John Lennon falou certa vez que ele já esteve em todos os lugares e só foi se encontrar nele mesmo.
John Lennon compôs uma música que dizia que não acreditava em mais nada, a não ser no amor.
Será que precisamos acreditar em algo?
Será que existem respostas?

Talvez se a lua fosse ocupada pelos românticos, eles a tivessem destruído, assim como fazem com o amor.
Mas é claro que a razão não é a resposta. Ela não dá o conforto de um lindo sorriso inesperado.
Nem tudo a ciência consegue explicar perfeitamente.
O Amor, a Paixão ...
Existem apenas, assim como a vida.
Então a vida não tem sentido?
Então a vida precisa de um sentido?
Ninguém consegue explicar como chegamos até aqui.
Ninguém diz qual que é o caminho.
Eu sei que não existe destino.
Não me diga o que eu devo fazer.
Não quero saber de verdades.
Não minta para mim.
Não minta para você.
Em certos momentos tudo o que temos nos parece nada.
Em certos momentos o nada parece tudo ...

Mas todo o silêncio é rompido pelo piano de Tom Waits
E todo o frio que sinto parece que vai demorar para sumir.
Talvez tudo seja só impressão.
Não há respostas,
Não há sentido,
E essa noite eu não quero me perder
Essa noite eu não sei mais o que é possível, ou impossível, ou sei lá o que.
Essa noite, somente essa noite.
Eu não vou procurar respostas
Somente essa noite
Eu não quero saber.



quarta-feira, 9 de maio de 2012

"COMO UMA PEDRA QUE ROLA"


Essa foto foi tirada no estúdio A, da gravadora Columbia Records,
quando Bob Dylan trabalhava nas gravações de Like a Rolling Stone,
em 1965.


ERA UMA VEZ UMA GAROTA BEM-VESTIDA
QUE JOGAVA UM TOSTÃO PARA OS VAGABUNDOS QUANDO ESTAVA POR CIMA
NÃO JOGAVA?
O PESSOAL DIZIA: PEGA LEVE, BONECA, VOCÊ VAI QUEBRAR,
VOCÊ ACHAVA QUE ESTAVAM
PEGANDO NO SEU PÉ
VOCÊ RIA NA CARA
DE QUEM ESTAVA NA RUA
AGORA JÁ NÃO FALA TÃO ALTO
AGORA NÃO PARECE TÃO EXIBIDA
TENDO QUE SE VIRAR
PARA ARRANJAR COMIDA

COMO VOCÊ SE SENTE?
COMO VOCÊ SE SENTE
SEM TER CASA
COMO UMA COMPLETA DESCONHECIDA
COMO UMA PEDRA QUE ROLA?

AH, VOCÊ
FREQUENTOU AS MELHORES ESCOLAS
MUITO BEM, SENHORITA SOLITÁRIA
MAS VOCÊ SABE QUE SÓ ENCHIA A CARA LÁ
NINGUÉM NUNCA A ENSINOU A VIVER NA RUA
E AGORA VOCÊ DESCOBRIU
QUE VAI TER QUE SE ACOSTUMAR COM ISSO
VOCÊ DIZIA QUE NUNCA
IA SE COMPROMETER
COM O VAGABUNDO MISTERIOSO, MAS AGORA PERCEBE
QUE ELE NÃO TEM ÁLIBIS PARA VENDER
ENQUANTO ENCARA O VAZIO DOS OLHOS DELE
E PERGUNTA:
"QUER FAZER UM TRATO?"

COMO VOCÊ SE SENTE?
COMO VOCÊ SE SENTE
SÓ COM VOCÊ MESMA
SEM TER CASA PARA ONDE IR
COMO UMA COMPLETA DESCONHECIDA
COMO UMA PEDRA QUE ROLA?

AH, VOCÊ
NÃO ESTAVA NEM AÍ PROS MALABARISTAS
E PALHAÇOS QUE FRANZIAM A TESTA
QUADO SE REBAIXAVAM
FAZENDO TRUQUES PRA VOCÊ
NUNCA ENTENDEU QUE NÃO ERA LEGAL
DEIXAR OS OUTROS
LEVAREM
PONTAPÉS POR VOCÊ
VOCÊ COSTUMAVA DAR UMAS VOLTAS NO CAVALO CROMADO COM O SEU
DIPLOMATA
QUE LEVAVA NO OMBRO UM
GATO SIAMÊS
NÃO FOI DURO DESCOBRIR
QUE ELE NÃO ESTAVA COM NADA
DEPOIS QUE ELE LHE TOMOU TUDO O QUE PODIA?

COMO VOCÊ SE SENTE?
COMO VOCÊ SE SENTE
SÓ COM VOCÊ MESMA?
SEM CASA PARA ONDE IR
COMO UMA COMPLETA DESCONHECIDA
COMO UMA PEDRA QUE ROLA?

AH
A PRINCESA NA TORRE
E TODOS OS ALMOFADINHAS
ESTÃO BEBENDO, ACHANDO QUE SE
DERAM BEM
TROCANDO TODOS ESSES PRESENTES LEGAIS
MAS É MELHOR
TIRAR SEU ANEL DE DIAMANTES, GAROTA,
MELHOR BOTAR ELE NO PREGO, BABY
VOCÊ COSTUMAVA
DEBOCHAR
DO NAPOLEÃO ESFARRAPADO
E DA GÍRIA QUE ELE USAVA
VÁ PROCURÁ-LO AGORA, ELE ESTÁ CHAMANDO VOCÊ E VOCÊ NÃO PODE RECUSAR
QUANDO VOCÊ NÃO TEM NADA,
NÃO TEM NADA A PERDER
VOCÊ ESTA INVISÍVEL AGORA, SEM SEGREDOS PARA ESCONDER

COMO VOCÊ SE SENTE?
COMO VOCÊ SE SENTE
SÓ COM VOCÊ MESMA?
SEM CASA PARA ONDE IR
COMO UMA COMPLETA DESCONHECIDA
COMO UMA PEDRA QUE ROLA?

LIKE A ROLLING STONE - http://www.youtube.com/watch?v=LmY30_DjMYo

terça-feira, 8 de maio de 2012

C'est La Vie ...

Arthur Dapieve - É manhã. Vocês estão com a cabeça descansada. Pensei em tratar do tema morte, da ideia de finitude, da experiência da passagem do tempo. Vocês provavelmente leram "O Outono do Patriarca", do García Márquez. Ao final do livro, o ditador de algo entre 107 e 232 anos reflete que mesmo as vidas mais longas e produtivas não servem para nada além de aprender a viver. Vocês acham que é isso? Ou aprende-se alguma outra coisa com a vida? Uma vida longa e produtiva como a de vocês

Zuenir Ventura (risos) - Luis Fernando, pergunta difícil é para você.

Luís Fernando Veríssimo - A lição maior, à qual eu acho que a gente resiste, é ver o absurdo da vida. Tudo isto pra quê? Pra nada, né. Agora, tudo isso tem seu valor. Mas, como lição de chegar a uma filosofia no fim da vida sobre a vida, eu acho que não seve para muita coisa, não. Sei que é uma atitude meio niilista, mas é o que eu acho. A morte é o fim de tudo, não fica nem memória, pra gente não fica memória, não tem outra vida, não tem nenhuma consequência de ter vivido de um jeito ou de outro. Então, eu acho que  a lição da vida é o absurdo da vida. Mas é uma lição à qual a gente deve resistir, não se deve sucumbir a ela. Acho que é o Camus que diz que a única questão filosófica séria é o suicídio. Quer dizer, o suicídio é quando você se dá conta do absurdo de tudo. Então, a gente deve resistir a este "se dar conta do absurdo da vida" E viver como se a vida tivesse sentido, e você eventualmente vai levar um tipo de sabedoria, um tipo de consequência, um tipo de recompensa, vamos dizer assim.

Zuenir Ventura - O próprio suicida, o próprio Camus tem a metáfora do Sísifo.

Luis Fernando Verissimo - É. A vida está sempre levando a pedra até lá em cima, e a pedra volta rolando.

Arthur Dapieve - Ele fala do absurdo e do suicídio o tempo todo. Mas no final vem um golpe, porque ele escreve: "É preciso imaginar Sísifo feliz." É a última frase do livro. Uma solução Deus ex machina para a vida, ele decide.

Luis Fernando Verissimo - Exatamente.

Zuenir Ventura - Eu acho que é exatamente o que o Luis Fernando disse. Agora, engraçado, essa coisa não me angustia como eu acho que o angustia. Quer dizer, a gente pensa muito na finalidade, na vida como um fim. Eu acho que a gente esquece que o importante é o caminho, o meio. O que mais me preocupa, preocupa não, o que me interessa é realmente esse caminho. Eu não me coloco "o que vai ser depois", "o que será da minha vida?" Porque eu acho que o que irrompe no aqui e agora é que é realmente fundamental. Eu disse que a minha grande angústia é o sofrimento, não a morte. Agora, a morte, como disse seu amigo ...

Arthur Dapieve - ... a morte não existe pra gente.

Zuenir Ventura - ... não existe pra gente. Como eu não acredito no além, nessas coisas ... Seria terrível, você do outro lado olhando o que você perdeu. Olhando pra cá e dizendo:"pô, tô perdendo esta festa, tô saindo no meio da festa."

Arthur Dapieve -  Ao menos temporariamente. Por que se você fosse pra lá, os outros também iriam pra lá. E aí, de repente.

Zuenir Ventura - Não me aflige essa coisa do sentido da vida, esse enigma que a gente não consegue decifrar, que é o absurdo. Que é realmente o absurdo. Mas eu acho que o Camus acaba resolvendo dessa maneira poética, linda, de que ao mesmo tempo é preciso imaginar o Sísifo feliz - quer dizer, carregando pedras, sem sentido, aquela coisa. Enfim, não é uma questão existencial, metafísica, pra mim não. não mesmo.

Luis Fernando Verissimo - Eu acho que no fundo ninguém acredita completamente que vai morrer, que vai desaparecer.

Arthur Dapieve - É algo inconcebível.

(...)

Luis Fernando Verissimo e Zuenir Ventura
Conversa sobre o tempo
com Arthur Dapieve




segunda-feira, 7 de maio de 2012



nando reis - n   http://www.youtube.com/watch?v=Y_kKb8uaESc


e agora, o que vou fazer
se os seus lábios ainda
estão molhando
os lábios meus?
e as lágrimas não secaram
com o Sol que fez?


e agora, como posso te esquecer
se o seu cheiro ainda
está no travesseiro?
e o seu cabelo está enrolado
no meu peito?


espero que o tempo passe
espero que a semana acabe
pra que eu possa te ver de novo


espero que o tempo voe
para que você retorne
pra que eu possa te abraçar
e te beijar
de novo

e agora, como eu passo sem te ver?
se o seu nome está gravado no
meu braço como um selo?
nossos nomes que tem o N
como um elo


e agora, como posso te perder?
se o teu corpo ainda guarda o
meu prazer?
e o meu corpo está moldado
com o teu?

domingo, 6 de maio de 2012

A Vida É Um Belo Passeio ...





In My Life (Lennon/ McCartney)

Há Lugares dos quais vou me lembrar
por toda a minha vida, embora alguns tenham mudado
Alguns para sempre, e não para melhor
Alguns já nem existem, outros permanecem

Todos esses lugares tiveram seus momentos
Com amores e amigos dos quais ainda posso me lembrar
Alguns já se foram, outros ainda vivem
Em minha vida, amei todos eles

Mas de todos esses amigos e amores
Não há ninguém que se compare a você
E essas memórias perdem o sentido
Quando eu penso em amor como uma coisa nova

Embora eu saiba que eu nunca vou perder o afeto
por pessoas e coisas que vieram antes.
Eu sei que com frequência eu vou parar e pensar nelas
Em minha vida, eu amo mais a você

Embora eu saiba que eu nunca vou perder o afeto
por pessoas e coisas que vieram antes
Eu sei que com frequência eu vou parar e pensar nelas
Em minha vida  eu amo mais a você
Em minha vida ... eu amo mais a você

sexta-feira, 27 de abril de 2012

Carta de Jorge Amado para Pilar e José Saramago

Fonte:
Ministério da Cultura do Estado de São Paulo
Museu da Língua Portuguesa
Fundação Casa de Jorge Amado.




Para Pilar e José Saramago
fax: (34-28) 510-299

Salvador, 19 de junho de 1993.
  
                                      Queridos Pilar e José,



Estava eu hoje ditando a Paloma um fax para vocês quando recebi o vosso. Muito obrigado.

Estou bem, em plena recuperação há um mês do infarte.

Somente agora os médicos permitem-me retornar à correspondência. Aqui agradeço, de todo o coração vossos faxes de hoje e de 18 de maio, assim como a carta de José datada de 9 de maio, que tanto me honrou e comoveu.
                                      

Infelizmente  os médicos não me liberaram para comparecer à reunião da Academia Universal das Culturas, que se realizará em Paris a 29 deste mês. Escrevi a meu amigo Yashar Khemal, também membro da Academia, pedindo-lhe que zelasse pelas candidaturas que indiquei - a de Oscar Niemeyer, a de José e a de Ernesto Sabato - às quais acrescentei a de Jack Lang no momento em que ele deixou de ser ministro de Cultura da França.

 Logo que esteja liberado viajarei para Paris, passando por Portugal. Gostaria de saber vosso calendário para o mês de julho.

Zélia, assim como meus filhos Paloma e João, juntam-se a mim num beijo para Pilar  e num abraço afetuoso para José.


Vosso




Jorge Amado


quinta-feira, 26 de abril de 2012



No meio do plano de marketing da gravadora Capitol para lançar os Beatles nos Estados Unidos estava um disco, com esta entrevista promocional, a ser distribuído para todas as rádios da América.

Como vocês decidiram batizar o grupo de The Beatles?
John - Bem, eu tive uma visão quando tinha 12 anos. E eu vi um homem em uma torta flamejante e ele disse: "Vocês serão Beatles com um A". E aqui estamos nós (risos). De qualquer jeito, foi como começou.

E para você, Paul, como começou?
Paul - Nós fizemos nosso primeiro LP no começo de 1963 e ele foi um hit. Mas eu acho que ... hmmm ... que tudo começou de verdade quando fizemos o Sunday Night at the London Paladium. E dali nós fomos convidados para o Royal Variety Command Performance, você sabe, então conhecemos a rainha mãe, e ela nos aplaudiu ... (risos).
John - A princesa Margaret também.

Vocês sabem quantos discos vocês venderam até hoje?
Ringo - Hmmm, bem ... Dá última conta era 6 milhões, eu acho.
John - Esses foram só os discos do Ringo (risos)
Ringo - É verdade, os dos outros estão em liquidação (mais risos)

Vocês ouviram falar que seus discos estão entrando nas paradas de sucesso em países por todo o mundo?
George - Sim. Bem, nós ouvimos falar que nosso último single, I Want To Hold Your Hand, entrou no Top 20 da Austrália direto no número um, o que é bem bacana. E eu acho que está vendendo bem na Finlândia e Suécia e lugares como esses, também.
Ringo - Na Irlanda, também.
John - Em Israel, eu acho.

Mas vocês nunca imaginaram ter uma aceitação mundial ...
George - (irônico): Bem, isso seria educado de se dizer (risos)
Ringo - Nós temos muita sorte.

Dizem por aí que vocês usam perucas.
Paul - Não, isso é um rumor sujo. Não usamos.
John - O que acontece é que cortamos nossos próprios cabelos (risos)

O que os influenciou a deixar os cabelos tão compridos?
Paul - Acho que foi meu pai, na verdade. Ele disse: "Sabe, filho, você está um pouco careta", com aquele cabelo que eu tinha - você sabe, curto atrás e dos lados. Então ele disse: "Por que você não faz um corte beatle"? (muitos risos)

Vocês se sentiram em perigo por conta do assédio das fãs mais destemidas?
Paul - Bem, elas são destemidas, mas nós ... bem, nós gostamos. Nós nunca terminamos com nenhum arranhão, porque os policiais são igualmente destemidos. A polícia tem um belo time (risos).

Onde vocês arrumaram essas roupas bacanas?
Ringo - Não sei. Nós estávamos apenas passeando pela cidade e olhamos por uma vitrine. E gostamos do que vimos e simplesmente compramos um terno cada um e decidimos que seriam nossas roupas de palco. Foi como começou, sabe? E nos vestimos assim desde então.

Várias de suas canções contêm palavras como "you", "me", ou "I". 
George - "Please please me", "From me to you" ...
John - "She Loves you", "I want to hold your hand" ...

Exatamente. Qual o significado disso?
Paul - Nenhum, a única ideia é que, bem, quando nós cantamos canções, nós preferimos aquelas com um tipo de toque pessoal, como você vê. Então, o melhor jeito de colocar isso em uma música é escrevê-la com palavras como "eu" ou "você" ou "mim" ou "ele". Ou "por" ou "através" ou "que" (gargalhadas).

Entrevista gravada e distribuída em fevereiro de 1964, durante a primeira visita dos Beatles à América.
Fonte: Revista Bizz Edição Especial - "The Beatles: tudo sobre a caixa de DVDs Anthology".

I Saw Her Standing There - http://www.youtube.com/watch?v=oWdqh2PPvTI






quarta-feira, 25 de abril de 2012



John Lennon

Foi uma época maravilhosa aquela. Eramos como os reis da selva, e bastante chegados aos Stones. Não sei se os outros ficaram muito íntimos, mas eu passava bastante tempo com Brian e com Mick. Eu os admiro, sabe? Curti da primeira vez que os vi, naquele lugar de onde eles vêm, Richmond. Passei muito tempo com eles, e foi ótimo. Todos nós costumávamos ir até Londres de carro, encontrar uns com os outros, falar sobre música com Eric e os Animals, tudo o mais. Foi realmente o melhor período, em termos de fama. Não eramos tão perseguidos. Era como um clube de fumantes masculino, só nos melhores ambientes. Brian Jones ficou diferente ao longo dos anos, enquanto se desintegrava. Ele acabou como aquele tipo de cara que , quando telefona, a gente tica com medo, porque sabe que vem problema. Ele realmente sofreu muito. No começo, tudo bem, porque era jovem e confiante. Foi daqueles caras que se desintegram na frente da gente. Não era brilhante, ou nada disso, era só um cara legal.
As excursões dos Beatles eram como o filme "Satyricon", de Fellini, Tínhamos essa imagem. Cara, nossas excursões eram demais. Se você conseguia embarcar, então estava dentro. Eram como o "Satyricon", sim senhor.
Em todos os lugares onde íamos, tinha sempre muita coisa acontecendo. Tínhamos quatro quartos separados. Tentávamos mantê-los fora de nossos quartos. Os quartos de Derek e Neil estavam sempre cheios de drogados e prostitutas, sabe lá Deus quem mais, e policiais também, "Satyricon"! Precisávamos fazer alguma coisa. O que a gente faz quando o efeito da pílula não passa e está na hora de ir? Eu costumava ficar acordado a noite toda com Derek. quer tivesse mais alguém ou não. Não conseguia dormir, com as coisas da pesada acontecendo. eles não as chamavam de tietes, naquela época, chamavam-nas de outra coisa; e se não conseguíamos tietes, arranjávamos prostitutas e tudo o mais, qualquer coisa que estivesse acontecendo.
Quando chegávamos à cidade, "chegávamos à cidade". Ninguém tinha dúvidas a respeito. Existem fotografias minhas em Amsterdã, de joelhos, saindo de prostíbulos, e coisas assim. A polícia me acompanhava aos lugares, porque nunca queriam nenhum escândalo, sabe como é? Na verdade não quero falar sobre isso, porque magoa Yoko. E não é justo. É suficiente dizer que as excursões eram como "Satyricon", e pronto, porque não quero magoar sentimentos das garotas de outras pessoas. Simplesmente não é justo.

terça-feira, 24 de abril de 2012

For No One



Texto de Steve Turner

Com sua melodia misteriosa e uma seção de sopros, trata-se de uma das mais belas composições de Paul. 'For No One' foi escrita em um chalé alugado a menos de um quilômetro da estação de esqui suíça de Klosters, onde ele e Jane passaram um curto período de férias em março de 1966. Ele voltou da Suíça para trabalhar em 'Revolver', e Jane começou os ensaios para interpretar a jovem Ellen Terry em 'Sixty Thousand Nights' no Royal Theatre, em Bristol.
Através de uma série de flashbacks de sua vida juntos, a música capta o início da descoberta de que os sentimentos de alguém  desapareceram. Em uma entrevista, Paul afirmou que era sobre sua própria experiência de viver com uma mulher quando tinha acabado de sair de casa. O título provisório era 'Why Did It Die?', e ele admitiu depois que provavelmente era sobre 'mais uma discussão' com Jane.

segunda-feira, 23 de abril de 2012



Nenhum de nós teria conseguido sozinho (explicou certa vez Lennon), porque Paul não era suficientemente forte, eu não tinha muito charme com as mulheres, George era quieto demais e Ringo era o baterista. Mas nós achamos que se nos juntássemos, cada pessoa poderia gostar de pelo menos um de nós, e foi nisso que deu.

quinta-feira, 19 de abril de 2012

"Enigma de Uma Tarde de Outono"



Enigma de Uma Tarde de Outono - c. 1910
Giorgio de Chirico

Texto: Mariana Shirai
Revista Época - 05 dez 2011

Aos 21 anos, o italiano Giorgio de Chirico (1888 - 1978) já tinha uma sólida formação em pintura e filosofia adquirida em Atenas, onde nascera, e , a partir de 1906, em Munique, na Alemanha, onde vivera e estudara. Ele estava em Florença e se recuperava de uma "penosa doença intestinal" quando, sentado num banco da Praça Santa Croce, teve uma sensação desconcertante. "Tudo, até mesmo o mármore dos edifícios e as fontes, parecia estar em convalescença", escreveu. "O Sol de outono, frio e pouco afetuoso, iluminava a estátua e a fachada da igreja. Então, tive a estranha impressão de que estava olhando para todas essas coisas pela primeira vez." Foi ali que ele concebeu o quadro Enigma de Uma Tarde de Outono.
De Chirico conseguiu, em sua obra, uma façanha rara: tornar visível de maneira realista aquilo que é imperceptível aos olhos. Ao tentar registrar com pincel e tinta os fenômenos que vivia, criou um movimento que ficou conhecido como Pintura Metafísica, decisivo para o surgimento, na década de 1920, da estética que misturava sonho e realidade e recebeu o nome de surrealismo.
Seu quadro Enigma de Uma Tarde de Outono retrata a Praça Santa Croce, mas não de maneira objetiva. A fachada da igreja renascentista lembra um templo grego, um mastro de navio é visto atrás de uma parede e a estátua de Dante é retratada sem cabeça e de costas. Ele expressou as diferentes emoções e os significados misteriosos que sua "revelação" (nome dado pelo artista a esse tipo de experiência) proporcionou. Com referências a mitologia grega e às experiências íntimas, essa nova maneira de pintar misturava diferentes perspectivas num mesmo quadro, usava cores pálidas e ambientes desertos. Ela combinava perfeitamente com o sentimento de melancolia e desorientação do homem moderno.

quarta-feira, 18 de abril de 2012

Os Invasores



Mario Quintana


Há muito tempo que os marcianos invadiram o mundo:
são os poetas
e
como não sabem nada de nada
limitam-se a ter os olhos muito abertos
e a disponibilidade de um marinheiro em terra ...
Eles não sabem nada nada
- e só por isso é que descobrem tudo.




- A foto acima retrata a poeta Cia Rinne, nascida na Suécia, em 1973.
Sua obra mais famosa é "Sons para Solistas", que junta texto e som.
Atualmente a poeta mora em Berlim.
Sons para Solistas - http://www.youtube.com/watch?v=y2NaLpiHOzU

terça-feira, 17 de abril de 2012

"No Mar Sem Hipocampos"



Marina Colasanti


Assim que anoiteceu, saiu para pescar. Peixes não, estrelas.
Afastou-se da casa, atravessou um campo até o seu limite.
Na linha do horizonte, sentado à beira do céu, abriu a caixa das frases poéticas que havia trazido como iscas. Escolheu a mais sonora, prendeu-a firmemente na rebarba luzidia.
Depois, pondo-se de cabeça para baixo, lançou a linha no imenso azul, deixando desenrolar todo o molinete.
E, paciente, enquanto a Lua avançava sem mover ondas, começou a longa espera de que uma estrela viesse morder o seu anzol.

segunda-feira, 16 de abril de 2012



Às vezes
Os sonhos amanhecidos
Nos trazem lembranças
Das noites passadas.


A ferro e a fogo
Retomam momentos
Remontam sentidos
Retidos no dia.


Às vezes um dia vivido
Nos cai como um sonho
De cor e desejo.


Com sons e sentidos
Refaz o sorriso
Das belas crianças
Dormidas em nós.

ALECSANDER SANTOS

domingo, 15 de abril de 2012

"O Tesouro das Horas"

                          Helena Kolody

A cada dia,

a vida me oferece

o tesouro das horas

inteiramente minhas.



           

sábado, 14 de abril de 2012

Robert Doisneau

Hoje temos o centenário de um ícone da fotografia mundial. 
Robert Doisneau transformou cenas simples do cotidiano da capital francesa em belas imagens.





Robert Doisneau (14 de abril 1912 - 1º de abril 1994)

Qualificado como o "fotógrafo da Paris do século XX", Robert Doisneau nasceu nas cercanias da capital francesa. Formado profissionalmente como litógrafo, começou a se interessar pela fotografia quando era empregado em um estúdio de artes gráficas, ao mesmo tempo em que incrementava seus conhecimentos artísticos. Antes de se dedicar plenamente ao fotojornalismo, trabalhou com publicidade e como fotógrafo industrial para a montadora de automóveis Renault. Durante a ocupação alemã, colaborou com a Resistência, e em 1944 registrou a libertação de Paris, em cuja campanha conheceu Henri Cartier Bresson. Membro destacado da escola "humanista francesa", foi um fiel colaborador da agência Rapho.
Coleção Folha Grandes Fotógrafos

sexta-feira, 13 de abril de 2012

quinta-feira, 12 de abril de 2012

"Empyrean Isles"

"O jazz é a música que expressa o melhor do espírito humano. 
Tem a ver com a ideia de compartilhar, não com a de competir. 
Jazz tem a ver com trabalho em grupo".

Herbie Hancock em entrevista à Folha de São Paulo, em 2006



Em junho de 1964, o pianista Herbie Hancok, o trompetista Freddie Hubbard, o baixista Ron Carter e o baterista Tony Williams entraram em estúdio para as gravações de "Empyrean Isles", o quarto disco da carreira de Herbie Hancock, lançado pelo selo Blue Note Records. As composições e arranjos das músicas são todas de autoria de Herbie Hancock: One Finger Snap; Oliloqui Valley; Cantaloupe Island; The Egg.

Herbie foi integrante nos anos de 1960 do quinteto de Miles Davis, por cinco anos, graças a indicação do seu baterista Tony Willians, que aos 17 anos participou da gravação de "My Point of View", segundo álbum do pianista. A carreira de Herbie Hancock começou a despontar cedo, aos 22 anos ele lançou o seu primeiro disco, "Takin' Off" , de 1962.

O Filme "Blow-up", de 1966, do diretor italiano Michelangelo Antonioni, teve Herbie Hancock como autor da trilha sonora. A presença das bandas Yarbirds (com o então jovem guitarrista Jimmy Page) e Tomorrow ocorrem, em parte, pela aproximação que Herbie teve da música pop. O seu principal trabalho para o cinema foi no filme "Round Midnight", de 1986, vencedor de Oscar de melhor trilha sonora. O drama do diretor francês Bertrand Tavernier é uma bela homenagem à música, considerado por muitos "a obra que tratou com mais sensibilidade a figura do músico de jazz no cinema" (Carlos Calado).

"Só quem passou o ano de 1994 fora deste planeta, ou recluso em um mosteiro, não ouviu "Cantaloup (Flip Fantasia), o sucesso da banda inglesa de jazz- rap US3, que até hoje continua a ser executado nas rádios. Muitos não sabem que essa gravação é um remix de Cantaloup Island, composição de Herbie Hancock." (Coleção Folha Clássicos do Jazz)

Cantaloupe Island (Herbie Hancock) - http://www.youtube.com/watch?v=W4WE2VbPAag







quarta-feira, 11 de abril de 2012

"Kind Of Blue"

Na Nova York de fins da década de 50, Miles vivia num apartamento na esquina da Décima Avenida com a Rua 57. Adorava o arranjador Gil Evans, o pianista Bill Evans, o saxofonista John Coltrane e George Russel. Por que George Russel? "Acho que começa um movimento no jazz saindo da convencional seqüência de acordes, um retorno à ênfase na melodia. Estou a fim de escrever música sem acordes, baseada em escalas", declarou Miles ao crítico Nat Hentoff nesse apartamento, em 1958.
Um ano antes, em julho de 1957, assisti na School of Jazz em Lenox à histórica palestra em que o arranjador e compositor George Russel expôs para nós, estudantes, o resultado de seus estudos concentrados numa escala derivada do modo lídio, que originou a inovadora teoria do jazz modal criada entre 1950 e 1953 e descrita em seu livro "Lydian Chromatic Theory of Tonal Organization. Essa concepção teria aberto as portas para que seu fervoroso admirador Miles Davis construísse em 1959 um dos mais belos discos da história do jazz, "Kind Of Blue, cuja inovação era precisamente o emprego do jazz modal. Não custa lembrar que o principal pianista desse disco, Bill Evans, escreveu o texto da contracapa. O mesmo Bill Evans que já fora pianista em discos de George Russel. Esse episódio mostra a argúcia de Miles Davis tanto na escolha de seus músicos como na percepção antecipada do que viria a acontecer, o dom de um visionário.

Zuza Homem de Melo -  Revista "The President" (dez/2011)

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terça-feira, 10 de abril de 2012

"Time Out"

A última coisa que Dave Brubeck esperava quando entrou no estúdio, em 1959, com uma pilha de músicas mal-ajambradas era fazer sucesso. O pianista de óculos já tinha construído um invejável império de fãs com seus conceitos pioneiros em universidades. Um experimentador cheio de vida, que nunca deixou a popularidade interferir em sua inspiração, Brubeck gravou um dos mais populares discos de jazz de todos os tempos com um material que não valia muito, para dizer o mínimo.
Na faixa "Take Five", concebida previamente nos compasso 5/4, pouco apropriado ao swing, o pianista se mantém num improviso percussivo permanente, enquanto o sax alto de Paul Desmond navega em uma lina sinuosa. Muitas vezes, Brubeck não é a estrela do trabalho. Poucos se lembram que Desmond - que, com seu estilo seco, teve um papel importante no sucesso do quarteto - é o autor desse inesquecível hit. Da mesma forma, é fundamental a bateria segura de Joe Morello e a solidez do baixo de Eugene Wrijght, que transformaram um material difícil como "Blue Rondo À La Turk, no compasso 9/8, e "Three To Get Ready", que oscila entre 3/4 e 4/4, em uma matéria-prima fundamental do jazz. É bom lembrar que, nessa época, John Coltrane, Cecil Taylor e Ornette Coleman estavam abrindo os caminhos do free jazz.
Na lógica defensiva dos críticos de jazz, Brubeck muitas vezes foi considerado maldito e perdeu ainda mais valor com o sucesso que "Time Out" fez entre o público em geral. Mas o álbum continua vendendo bem até hoje e, apesar de seu uso excessivo em anúncios, representa um feito fascinante.

1001 Discos Para Ouvir Antes de Morrer

Take Five -  http://www.youtube.com/watch?v=vmDDOFXSgAs

segunda-feira, 9 de abril de 2012

"Birth of the Cool"

Ano de 1949, saído de baixo das asas de Charlie "Bird" Parker e Dizzy Gillespie, Miles Davies, aos 24 anos, percebe que esta perdendo tempo ao tentar replicar os vôos harmônicos vertiginosos de seus mentores de bebop. A solução: juntar um bom time de músicos de estúdios de Nova York e tentar reconstruir e desconstruir o vocabulário bebop num espaço novo de improvisação. E espaço, para Miles, é o lugar fundamental de criação nesta sua primeira sessão de jazz como líder de banda.
Entrelaçando os tons surdos de seu trompete com os arranjos orquestrais urbanos ao gosto de Gil Evans, Gerry Mulligan e John Lewis, Miles dá forma a um harmônico cool jazz, que bebe tanto da música clássica européia como do hot jazz do bebop ou do ragtime. Seu solo de trompa, sem vibrato, na música de abertura, "Move", abre o caminho para uma série de poemas em tom impressionista, uma resposta velada ao excesso de acordes do bebop. Mas é uma música cool com balanço: é só ouvir Miles interagindo com o leve sax alto de Lee Konitz em "Jeru".
O fotógrafo Aram Avakian capta com precisão o jogo entre a frieza controlada e o poder emocional concentrado na música de Miles na simbólica fota da capa do disco. Os críticos também identificaram a "quietude audaciosa" do álbum - o público, no entanto, não gostou. O estilo cool foi deixado de lado até sua ressurreição no revisionismo feita na Costa Oeste dos grupos de meados dos anos 50. E Miles? Ele levou sua música cool para o cinema, no filme "Ascensor para o Cadafalso" (1957), de Louis Malle, apurando esse estilo até chegar à sua obra-prima Kind of Blue (1959), numa carreira voltada para a colaboração musical e a renovação de linguagem.
1001 discos para ouvir antes de morrer.


domingo, 8 de abril de 2012

"My Favorite Things"

Em outubro de 1960, John Coltrane entra no estúdio, em Nova York, para gravar "My Favorite Things", acompanhado por McCoy Tyner no piano, Steve Davis no baixo, Elvin Jones na bateria.

"My Favorite Things" é o primeiro álbum de Coltrane lançado pela Atlantic Records, em 1961.

Além da faixa que dá o nome ao disco, composta por Richard Rodgers e Oscar Hammerstein, o álbum ainda conta com "Everytime We Say Goodbye" de Cole Porter, "Summertime" e "But Not For Me" de Gershwin".

John Coltrane - "My Favorite Things"


sábado, 7 de abril de 2012

8ª Sombra - Último Fantasma

Castro Alves (ago/1870)

Quem és tu, quem és tu, vulto gracioso,
Que te elevas da noite orvalhada?
Tens a face nas sombras mergulhada ...
Sobre as névoas te libras vaporoso ...


Baixas do céu num vôo harmonioso! ...
Quem és tu, bela e branca desposada?
Da laranjeira em flor a flor nevada
Cerca-te a fronte, ó ser misterioso! ...


Onde nos vimos nós? ... És doutra esfera?
És o ser que eu busquei do sul ao norte ...
Por quem meu peito em sonhos desespera? ...


Quem és tu? Quem és tu? - És minha sorte!
És talvez o ideal que est'alma espera!
És a glória talvez! Talvez a morte! ...






quinta-feira, 5 de abril de 2012

"Cada espécie de homens tem suas características, seus aspectos, seus vícios e virtudes e seus pecados mortais. Um dos signos do Lobo da Estepe era o de ser um noctívago. A manhã era para ele a pior parte do dia, causava-lhe temor e nunca lhe trouxera nada de bom. Nunca fora alegre em qualquer manhã de sua vida, nunca fizera nada de bom na primeira metade do dia, não tivera boas idéias, nem divisara nenhuma alegria para ele ou para os demais. Ao começar a tarde, ia reagindo lentamente, principiava a se animar e, ao cair da noite, em seus melhores dias, tornava-se frutífero, ativo e, às vezes, até brilhante e alegre. Disso decorria sua necessidade de isolamento e de independência. Nunca existira um homem com tão profunda e apaixonada necessidade de independência como ele. Em sua juventude, quando ainda era pobre e tinha dificuldades em ganhar a vida, preferia passar fome e andar malvestido a sacrificar uma parcela de sua independência. Nunca se vendera por dinheiro ou vida fácil às mulheres ou aos poderosos, e mil vezes desprezara o que aos olhos do mundo representava vantagens e regalias, a fim de salvaguardar a sua liberdade. Nenhuma ideia lhe era mais odiosa e terrível do que a de exercer um cargo, submeter-se a horários, obedecer a ordens. Um escritório, uma repartição, uma sala de audiência, eram-lhe tão odiosos quanto a morte, e o que de mais espantoso podia imaginar em sonhos seria o confinamento num quartel. Sabia subtrair-se a todas essas coisas, à custa de grandes sacrifícios, e nisso residiam sua força e virtude, nisso era inflexível e incorruptível, nisso seu caráter era firme e retilíneo. Só que a essa virtude estavam intimamente ligados seu sofrimento e seu destino. Ocorria a ele o que se dá com todos: o que buscava e desejava com um impulso íntimo de seu ser acabava por ser-lhe concedido, mas em grau demasiadamente superior ao que convém a um homem. A princípio, o que obtinha parecia-lhe um sonho e uma satisfação, mas logo se revelava como sendo o seu amargo destino. Assim, o poderoso era arruinado pelo poder, o rico pelo dinheiro, o subserviente pela submissão, o luxurioso pela luxúria. O Lobo da Estepe perecia por sua própria independência. Havia alcançado sua meta, seria sempre independente, ninguém haveria de mandar nele, jamais faria algo para ser agradável aos outros. Só e livre, decidia sobre seus atos e omissões. Pois todo homem forte alcança indefectivelmente o que um verdadeiro impulso lhe ordena buscar. Mas em meio à liberdade alcançada Harry compreendia de súbito que essa liberdade era a morte, que estava só, que o mundo o deixara em paz de uma inquietante maneira, que ninguém mais se importava com ele, nem ele próprio,  e que se afogava aos poucos numa atmosfera cada vez mais tênue de falta de relações e isolamento. Havia chego ao momento em que a solidão e a independência já não eram seu objetivo e seu anseio, antes sua condenação e sentença. O maravilhoso desejo fora realizado e já não era possível voltar atrás e de nada valia agora abrir os braços cheio de boa vontade e nostalgia, disposto à fraternidade e à vida social. Tinham-no agora deixado só. Não que fosse motivo de ódio e de repugnância. Pelo contrário, tinha muitos amigos. Um grande número de pessoas o apreciava. Mas tudo não passava de simpatia e cordialidade; recebia convites, presentes, cartas gentis, mas ninguém vinha até ele, ninguém estava disposto nem era capaz de compartilhar sua vida. Agora rodeava-o a atmosfera do solitário, uma atmosfera serena da qual fugia o mundo em seu redor, deixando-o incapaz de relacionar-se, uma atmosfera contra a qual não poderia prevalecer nem a vontade nem o ardente desejo. Esta era uma das características mais significativas de sua vida."
O Lobo da Estepe - Hermann Hesse .

quarta-feira, 4 de abril de 2012

Café à Noite na Place Lamartine em Arles


Setembro de 1888
Óleo sobre tela (70X89 cm)
Yale University Art Gallery, New Haven, EUA


"Este é um dos quadros mais feios que já fiz. Equivale, mas é diferente, aos Comedores de Batatas. Tentei expressar as terríveis paixões humanas com o vermelho e o verde. A sala é vermelho-sangue e amarelo apagado, com uma mesa de sinuca verde no meio, quatro lâmpadas amarelo-limão, que expandem uma luz laranja e verde. Por todo canto existem uma luta e uma antítese dos diferentes verdes e vermelhos, nos personagens de pequenos delinquentes que dormem, na sala vazia e triste, em lilás e azul. O vermelho-sangue e o verde-amarelo da sinuca entram em contraste com o verde suave Luis XV do caixa, onde encontra-se um maço de flores rosas A roupa branca do proprietário, que vigia de um canto dessa fornalha, ficou amarelo-limão, verde pálido luminoso. (...) Tentei expressar a ideia de que o café é um local em que podemos nos arruinar, ficarmos loucos, cometer crimes. Tentei também expressar a potência tenebrosa quase de um abatedouro (...) e de qualquer forma sob uma aparente leveza japonesa."

Trecho da Carta de Van Gogh ao seu irmão Theo:

terça-feira, 3 de abril de 2012

"O Invasor"

Três amigos donos de uma construtora entram em divergências. A solução encontrada pelos dois que ambicionam um negócio ilícito é matar aquele que esta discordando de ganhar uma boa bolada de maneira fácil. O assassino contratado passa a incomodar ao ponto de um dos contratantes beirar a loucura. 

Marçal Aquino escreveu "O Invasor" e "Cabeça a Prêmio" que se tornaram filmes, assim como "Eu Receberia as Piores Notícias dos Seus Lindos Lábios" que terá a sua estréia nas telas nesse mês de abril. Vencedor do prêmio Jabuti com a obra "O Amor e Outros Objetos Pontiagudos", de 1999, também são de sua autoria "Faroestes", de 2001, "Famílias Terrivelmente Felizes", de 2003. Marçal Aquino ainda trabalhou nos roteiros de cinema de "Os Matadores", "Ação entre Amigos", "Nina" e "O Cheiro do Ralo".

O elenco do filme "O Invasor" conta com: Marco Ricca, Alexandre Borges, Paulo Miklos, Mariana Ximenes, Malu Mader, George Freire, Chris Couto e Sabotage. A direção é de Beto Brant .

Tony Bellotto escreveu na apresentação do livro:
Com sua prosa aparentemente simples, Marçal Aquino faz em "O Invasor" uma ultrassonografia sórdida do cotidiano. Através do látex da hipocrisia que permeia os relacionamentos, Marçal desvenda o horror que move os seres por estranhos labirintos - sociedades, famílias, casamentos, amizades - e outras formas ao mesmo tempo absurdas e corriqueiras do teatro humano. Teatro em que não faltam crime, morte, sexo, traição, inveja, mentira, violência, dissimulação, brutalidade, melancolia, dor e até amor verdadeiro. Cabe a Anísio, o Invasor, fazer chover no piquenique de todo mundo. Como um cavaleiro do apocalipse travestido de matador profissional, o Invasor revela aos outros personagens a extensão do vazio em que chafurdam. Vale o alerta: cuidado com as prosas aparentemente simples e as novelas enganosamente curtas. Elas podem ser uma armadilha para enredar o leitor numa grande história.