quinta-feira, 19 de abril de 2012

"Enigma de Uma Tarde de Outono"



Enigma de Uma Tarde de Outono - c. 1910
Giorgio de Chirico

Texto: Mariana Shirai
Revista Época - 05 dez 2011

Aos 21 anos, o italiano Giorgio de Chirico (1888 - 1978) já tinha uma sólida formação em pintura e filosofia adquirida em Atenas, onde nascera, e , a partir de 1906, em Munique, na Alemanha, onde vivera e estudara. Ele estava em Florença e se recuperava de uma "penosa doença intestinal" quando, sentado num banco da Praça Santa Croce, teve uma sensação desconcertante. "Tudo, até mesmo o mármore dos edifícios e as fontes, parecia estar em convalescença", escreveu. "O Sol de outono, frio e pouco afetuoso, iluminava a estátua e a fachada da igreja. Então, tive a estranha impressão de que estava olhando para todas essas coisas pela primeira vez." Foi ali que ele concebeu o quadro Enigma de Uma Tarde de Outono.
De Chirico conseguiu, em sua obra, uma façanha rara: tornar visível de maneira realista aquilo que é imperceptível aos olhos. Ao tentar registrar com pincel e tinta os fenômenos que vivia, criou um movimento que ficou conhecido como Pintura Metafísica, decisivo para o surgimento, na década de 1920, da estética que misturava sonho e realidade e recebeu o nome de surrealismo.
Seu quadro Enigma de Uma Tarde de Outono retrata a Praça Santa Croce, mas não de maneira objetiva. A fachada da igreja renascentista lembra um templo grego, um mastro de navio é visto atrás de uma parede e a estátua de Dante é retratada sem cabeça e de costas. Ele expressou as diferentes emoções e os significados misteriosos que sua "revelação" (nome dado pelo artista a esse tipo de experiência) proporcionou. Com referências a mitologia grega e às experiências íntimas, essa nova maneira de pintar misturava diferentes perspectivas num mesmo quadro, usava cores pálidas e ambientes desertos. Ela combinava perfeitamente com o sentimento de melancolia e desorientação do homem moderno.

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