sexta-feira, 9 de março de 2012

Morte de Bukowski completa 18 anos.



http://www.youtube.com/watch?v=OccJM75s64k

Charles Bukowski nasceu na Alemanha em 1920 e morreu nos Estados Unidos em 1994.

Eu conheci Bukowski através do filme Barfly, de 1987, em que Mikey Rourke interpreta Henri Chinaski e Faye Dunaway atua no papel de Wanda Wilcox. Quando eu tinha meus vinte e poucos anos li algumas de suas obras e me diverti bastante com a sua escrita autobiográfica com as questões do cotidiano.

Bukowski era um bêbado maldito e um grande vagabundo fascinado com a liberdade de uma vida voltada aos prazeres. Não estava preocupado com as regras e convenções da sociedade, tinha repúdio por tudo o que era autoridade desde muito cedo, devido às enormes surras que levou de seu pai, durante toda a sua infância. As suas preocupações pareciam se restringir a bebida e as mulheres, além das apostas nas corridas de cavalo.

Uma das grandes influências de Bukowski foi John Fante. O Prefácio de Pergunte ao Pó escrito por ele é o texto que segue:

Eu era um jovem, passando fome, bebendo e tentando ser escritor. Fazia a maior parte das minhas leituras na Biblioteca Pública de Los Angeles, no centro da cidade, e nada do que eu lia tinha a ver comigo ou com as ruas ou com as pessoas que me cercavam. Parecia que todo mundo estava fazendo jogos de palavras, que aqueles que não diziam quase nada eram considerados excelentes escritores. O que escreviam era uma mistura de sutileza, técnica e forma, e era lido, ensinado, ingerido e passado adiante. Era uma tramoia confortável, uma Cultura-de-Palavra muito elegante e cuidadosa. Era preciso voltar aos escritores russos pré-Revolução para se encontrar alguma aventura, alguma paixão. Havia exceções, mas estas exceções eram tão poucas que a leitura delas era feita rapidamente, e você ficava a olhar para fileiras de livros extremamente chatos. Com séculos para se recorrer, com todas as suas vantagens, os modernos não chegavam a ser muito bons.
            Eu tirava livro após livro das estantes. Por que ninguém dizia algo? Por que ninguém gritava?
         Tentei outras salas da biblioteca. A secção de religião era apenas um vasto pantanal ... para mim. Entrei na de filosofia. Encontrei alguns alemães amargos que me animaram por algum tempo, depois passou. Tentei matemática, mas a alta matemática era exatamente como a religião: me escapava. O que eu precisava parecia estar ausente por toda a parte.
          Tentei geologia e a achei curiosa mas, no fim, não sustentável.
       Encontrei algumas livros sobre cirurgia e gostei deles: as palavras eram novas e as ilustrações maravilhosas. Apreciei e memorizei particularmente a operação do cólon.
         Então larguei a cirurgia e voltei à grande sala dos escritores de romances e de contos. (Quando havia suficiente vinho barato para beber eu nunca ia à biblioteca. Uma biblioteca era um bom lugar para se estar quando você não tinha nada para comer ou beber e a senhoria estava à procura de você e do aluguel atrasado. Na biblioteca, pelo menos, você podia usar os toaletes.) Eu via um bom número de outros vagabundos ali, a maioria dormindo sobre os livros.
             Eu continuava dando voltas na grande sala, tirando livros das estantes, lendo algumas linhas, algumas páginas, e depois os colocando de volta.
             Então, um dia, puxei um livro e o abri, e lá estava. Fiquei parado de pé por um momento, lendo. Como um homem que encontrara ouro no lixão da cidade, levei o livro para uma mesa. As linhas rolavam facilmente através da página, havia um fluxo. Cada linha tinha sua própria energia e era seguida por outra como ela. A própria substância de cada linha dava uma forma à página, uma sensação de algo entalhado ali. E aqui, finalmente, estava um homem que não tinha medo da emoção. O humor e a dor entrelaçados a uma soberba simplicidade. O começo daquele livro foi um milagre arrebatador e enorme para mim.
          Eu tinha um cartão da biblioteca. Tomei o livro emprestado, levei-o ao meu quarto, subi à minha cama e o li, e sabia, muito antes de terminar, que aqui estava um homem que havia desenvolvido uma maneira peculiar de escrever. O livro era "Pergunte ao Pó" e o autor era John Fante. Ele se tornaria uma influência no meu modo de escrever para a vida toda. Terminei "Pergunte ao Pó" e procurei outros livros de Fante na biblioteca. Encontrei dois: "Dago Red" e "Espere a primavera, Bandini". Eram da mesma ordem, escritos das entranhas e do coração.
          Sim, Fante causou um importante efeito sobre mim. Não muito depois de ler esses livros, comecei a viver com uma mulher. Era uma bêbada pior do que eu e tínhamos discussões violentas, e freqüentemente eu berrava para ela: "Não me chame de filho da puta! Eu sou Bandini, Arturo Bandini!"
             Fante foi meu deus e eu sabia que os deuses deviam ser deixados em paz, a gente não batia nas suas porta. No entanto, eu gostava de adivinhar onde ele teria morado em Angel's Flight e achava possível que ainda morasse lá. Quase todo dia eu passava por lá e pensava: é esta a janela pela qual Camilla se arrastou? E é aquela a porta do hotel? É aquele o saguão? Nunca fiquei sabendo.
             Trinta e nove anos depois, reli "Pergunte ao Pó". Vale dizer, eu o reli neste ano e ele ainda está de pé, como as outras obras de Fante, mas esta é a minha favorita, porque foi minha primeira descoberta da mágica. Existem outros livros além de "Dago Reed" e "Espere a primavera, Bandini. São "Full of Life e The Brotherhood of the Grape". E, neste momento, Fante tem um romance em andamento, "Sonhos de Bunker Hill".
              Por meio de outras circunstâncias, finalmente conheci o autor este ano. Existe muito mais na história de John Fante. É uma história de uma terrível sorte e de um terrível destino e de uma rara coragem natural. Algum dia será contada, mas acho que ele não quer que eu a conte aqui. as deixem-me dizer que o jeito de suas palavras e o jeito do seu jeito são o mesmo: forte, bom e caloroso.
               E basta ...
              Charles Bukowski
5-6-1979

No túmulo de Bukowski esta escrito "Don't Try". 
Assim como Fante, o Velho Buk sempre soube lidar bem com a dor e o humor.




terça-feira, 6 de março de 2012

"Vida ou vida"



Arnaldo Antunes

Suplemento Literário, nº 48, Secretaria de Estado da Cultura de Minas Gerais, junho de 1999

     Faz dez anos que Leminski se foi;
     Dez anos voam.
     E a falta que ele faz como criador, agitador cultural e amigo, fica pousada. dilata-se, de tempo em tempo, a cada releitura de seus livros.
     Leminski continua a nos surpreender. Novas mensagens vão chegando aos poucos. Vivas.
     'Metaformose', por exemplo, é para mim um banho, um deslumbre, uma coisa do nível de 'Catatau' - pela densidade, misto de rigor e pique, achados e perdidos de invenções poéticas, de um fôlego que não deixa baixar a bola do começo ao fim. Inclassificável como gênero (narrativa ou reflexão? poema em prosa ou ensaio? ficção ou texto didático?). Impressionante pelo fato de não ter sido publicado em vida - o que de alguma forma revela as dúvidas, sempre tão presentes em Leminski, sobre o valor real de cada rebento seu ... "Tudo o que eu faço / alguém em mim que eu desprezo / sempre acha o máximo".
     E essas surpresas percorrem também 'La vie en close, O ex-estranho, Winterverno'. Como surpreenderam continuam a nos re-surpreender seus caprichos, relaxos, catatau, vidas, distraídos, polonaises, venceremos, anseios, agora, crípticos, é que são elas, minifestos, etcéteras - tantos e tanto.
     'Não fosse ... /  e era quase'
     Leminski se debatia nas fronteiras entre arte e vida. Sua utopia: 'vai vir o dia / quando tudo o que eu diga / seja poesia'. Caso de apego profundo e amoroso à palavra - sede de sua água, fogo de seu ar.
     O tom de grande parte do que ele produziu nos coloca numa intimidade conspiratória que não é comum de se ter. Como se nos piscasse o olho, por entre as linhas, identificando sempre algo em comum. Essa crença - a de que cada leitor era um comparsa, cúmplice, parceiro - parece ter alimentado o sotaque tão pessoal de sua poesia ou prosa.
     Exercitava estranheza e naturalidade; faces de um mesmo rosto.
     As gírias, as expressões coloquiais, as fagulhas da contra-cultura conviviam, com ou/e sem conflitos, com o rigor construtivista, a consciência de linguagem e a precisão e síntese apreendidas nos hai-kais, no zen, no judô.
     Antes de tudo poeta, sua inquietude o levou a se aventurar na música popular, na prosa, nos ensaios, nas traduções, nos grafismos, na poesia visual, no jornalismo, nas telas de vídeo ou de cinema, nas edições de revistas; assim como Torquato Neto (que desafinava o 'coro dos contentes', enquanto Paulo fazia 'chover' no seu 'piquenique') e outros de sua geração ('pertenço ao número /  dos que viveram uma época excessiva', escreveria ele no poema ' Coroas para Torquato').
      Ou talvez essas modalidades todas fossem apenas outras formas dele praticar poesia.
     Segundo por segundo. Inspiração por expiração.
     Tinha que pegar o cara pelo colarinho. Tinha que sacudir o cara. Tinha que pegá-lo pelo estômago.
     Duelava com as teclas da máquina de escrever.
     Cada letra um tiro. Um beijo.
     Um desafio, um desejo.
     Para ele era vida ou vida (Cruz e Souza, Bashô, Jesus, Trotski). Não fazia poesia para comentar a vida, mas para estar vivo.
     'Não fosse isso / e era menos'
     Agora, após dez anos que ele se foi, vamos vivê-la.

domingo, 4 de março de 2012

Coisas do Mundo.



Edson Liberato

Quando fui apresentado para o mundo ele me perguntou:
- E aí, tudo bem?
Eu ainda fascinado que estava por tê-lo conhecido respondi de maneira tímida:
- Tudo bem. E você?
- Vivo conforme me deixam viver.
Respondeu o mundo em alto e bom som.
Senti pena do mundo por ser refém da vontade dos outros e não poder comandar a sua própria vida.

sábado, 3 de março de 2012

"Naná Vasconcelos convida Lui Coimbra"


O show de Naná Vasconcelos no teatro da Caixa Cultural, nesse primeiro final de semana do mês de março, em Curitiba, é um daqueles encontros contundentes que temos com a arte e que nos deixam encantados.

O nome do show é "Naná Vasconcelos convida Lui Coimbra". Naná Vasconcelos sobe ao palco tocando "Berimbau", a música que tem o nome do instrumento usado na sua execução. A grata surpresa já ocorre nesse primeiro momento ao ver um instrumento percussivo, conhecido das rodas de capoeira, apresentar um som que até então era inimaginável. 
O repertório segue com músicas de autoria dos dois músicos e outras de Villa Lobos e Pedro Luís, entre outros, com arranjos originais. Em alguns momentos Naná conduz a platéia para participar do espetáculo.


Naná Vasconcelos já completou 56 anos de carreira, no decorrer dessa longa trajetória foi eleito oito vezes como melhor percussionista do mundo pela revista norte-americana Down Beat.

Lui Coimbra toca Violoncelo, violão e rabeca no espetáculo, além de cantar algumas músicas. Ele foi um dos fundadores nos anos de 1980 do grupo Aquarela Carioca e hoje acompanha diversos nomes consagrados da música brasileira como Ney Matogrosso, Alceu Valença, Ana Carolina e diversos outros.

sexta-feira, 2 de março de 2012

Leitura





O livro aberto
Palavras impressas ganham vida.

Estórias, Histórias, Personagens, Pessoas, Sentimentos, Lugares ...
Um conjunto de símbolos ganham sentido

Quando a mente produz quem agradece é o espirito.


Concordo com o ponto de vista de Drummond sobre a leitura.

    "A leitura é uma fonte inesgotável de prazer,
            mas por incrível que pareça,
       a quase totalidade não sente esta sede."