quinta-feira, 21 de junho de 2012

A morte de Paul McCartney



Texto: Bob Spitz

Na  sexta-feira, 10 de outubro de 1969, Russ Gibb, locutor de uma rádio de Detroit, a WKNR FM, deixou os ouvintes atônitos ao dar a notícia de que Paul estava morto. Na verdade, ele estava morto havia alguns anos, insistiu Gibb, desde novembro de 1966, quando, "às 5 horas de uma manhã chuvosa [ ... Paul ] estava passeando em seu Aston-Martin; o carro bateu e o beatle morreu". Como ele sabia disso? Gibb havia chegado a essa incrível conclusão depois de ler a crítica de "Abbey Road" feita por um aluno da Universidade de Michigan, chamado Fred LaBour, que apresentava indícios bastante complexos, os quais seriam a prova de que Paul havia morrido e fora substituído por um dublê. A capa de "Abbey Road", por si só, já era fonte de numerosas evidências: Ringo está vestido com roupa de agente funerário, enquanto Paul caminha atrás dele - descalço, como o corpo é preparado para o enterro na Itália. É verdade, a foto propriamente dita lembra uma procissão funerária. A placa do Volkswagen era outro sinal: 28 IF, sugerindo que Paul teria 28 anos se estivesse vivo. (O fato de a placa ser, na verdade 281 F não foi o bastante para contrariar a teoria conspiratória.) Havia mais. Na foto da contracapa de "Magical Mystery Tour", Paul está de cravo preto na lapela, enquanto John, George e Ringo usam cravos vermelhos; na capa, Paul está vestido com fantasia preta, ao passo que os outros estão de branco; dentro do álbum, uma foto mostra Paul, vestido de soldado, atrás de uma placa que diz "I Was You". Esse fato em especial convenceu Gibb, que se lembrou de um concurso de sósias de Paul McCartney realizado dois anos antes, no qual um concorrente chamado William Campbell foi escolhido vencedor. Sem dúvida, com uma pequena cirurgia plástica e um pouco de maquiagem, estava montada a fraude.

O anúncio de Gibb deu início a uma série de boatos que varreram o país. Todas as estações de rádio comerciais, complementadas por um exército de locutores de rádios universitárias audaciosos, acreditaram na história, colocando centenas de milhares de fãs confusos na busca de pistas nos discos dos Beatles. Como se fossem necessárias mais evidências, havia muitas a serem encontradas nos sulcos das faixas. Por exemplo, se "Strawberry Fields Forever" fosse tocada em 45 RPM em vez de 33 1/3, algumas pessoas juravam que John cantava "I burried Paul" (Eu enterrei Paul). No "Álbum Branco", se o repetitivo "number nine, number nine" fosse tocado de trás para a frente, elas ouviam uma voz que dizia "Turn me on, dead man, turn me on" (me ligue, homem morto, me ligue).Outras pessoas, ao ouvir "Revolution Nº 9" ao contrário, identificaram o som de um horrível acidente de trânsito (embora o mesmo pudesse ser dito dessa faixa quando ouvida normalmente), com uma voz que gritava "Get me out, get me out!" (Tire-me daqui, tire-me daqui!). E havia outras coisas mais, baseadas na audição ao contrário das gravações em estéreo: "He hit a pole! We better get him to see a surgeon. (Um grito.) So anyhow, be went to see a dentist instead. They gave him a pair of teeth that weren't any good at all so. (Som de buzina de carro) (Ele bateu em um poste! É melhor levá-lo a um cirurgião [...] No final, em vez disso, ele acabou indo ao dentista. Eles deram a ele uns dentes que não ficaram nada bons). Um locutor da WNEW FM de Nova York descobriu uma coisa no sulco do disco, entre "I'm So Tired" e "Blackbird"; quando a gravação era tocada ao contrário, ouvia-se John dizer : Paul is dead. Miss him. Miss him. Miss him ( Paul está morto. Sinto falta dele).

Paul está morto. A frase se tornou um refrão tão familiar quanto qualquer música de "Abbey Road". Os apresentadores da tevê martelaram o assunto, da mesma forma que os principais jornais. Paul está morto. E vendeu muitos discos, apesar das negativas veementes do próprio falecido. "Estou vivo e estou bem, e preocupado com os boatos sobre minha morte", ele disse à Associated Press, em pé, cheio de vida, na porta de sua casa, dez dias após a divulgação da notícia. "Mas, se eu estivesse morto, seria o último a saber." As vendas dos discos dos Beatles também dispararam, com "milhões de jovens fãs de olhos e ouvidos atentos aos sinais do suposto falecimento de Paul [...] nas capas e nos sulcos dos discos." Sgt. Pepper's ressurgiu no 124º lugar nas paradas americanas, com Magical Mystery Tour logo atrás, em 146º. E Abbey Road continuava a superar todos os concorrentes do momento em um milhão de unidades vendidas.

Embora "Paul está morto" estivesse dando aos Beatles todos os tipos de compensações financeiras, o tema em questão logo se transformou numa "grande chateação". Ele não podia ir a lugar nenhum ou fazer coisa alguma sem que um bisbilhoteiro criasse alguma confusão. "Será que você pode difundir a notícia de que sou apenas uma pessoa normal e quero viver em paz?", ele pediu ao correspondente da LIFE, que o localizou em carne e osso na sua fazenda na Escócia. "Que fique registrado: Paul não está morto."

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