Ano de 1949, saído de baixo das asas de Charlie "Bird" Parker e Dizzy Gillespie, Miles Davies, aos 24 anos, percebe que esta perdendo tempo ao tentar replicar os vôos harmônicos vertiginosos de seus mentores de bebop. A solução: juntar um bom time de músicos de estúdios de Nova York e tentar reconstruir e desconstruir o vocabulário bebop num espaço novo de improvisação. E espaço, para Miles, é o lugar fundamental de criação nesta sua primeira sessão de jazz como líder de banda.
Entrelaçando os tons surdos de seu trompete com os arranjos orquestrais urbanos ao gosto de Gil Evans, Gerry Mulligan e John Lewis, Miles dá forma a um harmônico cool jazz, que bebe tanto da música clássica européia como do hot jazz do bebop ou do ragtime. Seu solo de trompa, sem vibrato, na música de abertura, "Move", abre o caminho para uma série de poemas em tom impressionista, uma resposta velada ao excesso de acordes do bebop. Mas é uma música cool com balanço: é só ouvir Miles interagindo com o leve sax alto de Lee Konitz em "Jeru".
O fotógrafo Aram Avakian capta com precisão o jogo entre a frieza controlada e o poder emocional concentrado na música de Miles na simbólica fota da capa do disco. Os críticos também identificaram a "quietude audaciosa" do álbum - o público, no entanto, não gostou. O estilo cool foi deixado de lado até sua ressurreição no revisionismo feita na Costa Oeste dos grupos de meados dos anos 50. E Miles? Ele levou sua música cool para o cinema, no filme "Ascensor para o Cadafalso" (1957), de Louis Malle, apurando esse estilo até chegar à sua obra-prima Kind of Blue (1959), numa carreira voltada para a colaboração musical e a renovação de linguagem.
1001 discos para ouvir antes de morrer.
"Jeru" (Mulligan) - http://www.youtube.com/watch?v=MRjjqFogPGI

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